15 de julho de 2007

Ópera Dido e Eneias no Garcia de Resende



Ontem fui assistir à Ópera Dido e Eneias de Henry Purcell com libreto de Nahum Tate (versão concerto) no Teatro Garcia de Resende em Évora, com a organização do CENDREV.

Pensei que fosse algo mais profissional, mas afinal tratava-se de um trabalho de final de ano da Escola de Música Nossa Senhora do Cabo de Linda-a-Velha. O departamento de Música Antiga desta escola, constituido em Julho de 2006, preparou para o primeiro ano de funcionamento este concerto. Antes da ópera foi executado o vilancico Dexen que llore mi niño do compositor português Marques Lésbio.

Em que a apresentação foi feita pelos professores e alunos desta escola.

Elenco:

Dido: Joana Levy
Eneias: Rui Baeta
Belinda: Sofia Pedro
Feiticeira: Bárbara Faria
1ª Bruxa: Lia Nunes
2ª Bruxa: Inês Ferreira
2ª Mulher: Lucília Jesus
Espírito: Vanessa Gonçalves


Instrumentistas:

Violinos: Prof. Álvaro Pinto, Ana Rita Damil, Prof. Ana Rita Mendes, Guilherme Marques, Leonardo Furtado, Madalena Rodrigues.
Viola: Prof. Paul Wakabanyashi
Violoncelos: Catarina Koppitz, João Matos, Prof. Kenneth Frazer
Contrabaixo: Pedro Jesus
Guitarras: André Rafael Tempera, Prof. João Pedro Duarte, Mathilde Punter
Flauta de Bisel: Carlos Alves
Oboé: Christopher Koppitz
Cravo: Daniel Ramos, ManuelnSantos

Direcção e cravo: João Paulo Janeiro


Crítica:

Primeiro é de louvar levar esta peça tão longa e difícil com alunos. e o facto de ter em palco uma viola da gamba, um fagote barroco, um chitarrone, uma guitarra barroca, dois cravos e todos os instrumentos de corda modernos (incluindo o contrabaixo) usando arcos barrocos.

Penso que ficam de parabéns os alunos: Christopher Koppitz (oboé) e a aluna Sofia Pedro (soprano - Belinda). Foram excepcionais.

Quando ao conjunto gostei, embora a intenção de interpretação barroca da obra tenha ficado muito aquém, pois a articulação raramente estava lá.

Não desgostei da actuação da soprano Joana Levy, embora não houvesse uma grande preocupação na sua interpretação. Por outro lado, o barítono Rui Baeta tem pouca sensibilidade para este tipo de música, com uma dicção americana péssima, ligeiramente desafinado parecendo por vezes que estávamos a assistir a um dos musicais do La Feria.. Pena, porque a sua voz tem óptimas ressonâncias..

Quanto ao tocador da tiorba ou chitarrone.. bem.. primeiro, pareceu-me que a tinha afinada como uma viola normal.. e depois.. a maior parte do tempo não tocava. Deveria ter-se deixado ficar pela guitarra barroca. Num entanto tem uns belíssimos instrumentos.

O coro estava muito bom, apesar da articulação não estar lá.. mas afinação estava bem.

Parabéns à interpretação da 1ª bruxa, por vezes parecia que estava a ouvir a interpretação do William Christie com Les Art Florissants, para mim a melhor interpretação desta obra que já ouvi até então.

Contudo, penso que o balanço foi positivo. O intuito de pôr os alunos frente a um público num teatro é de louvar.


Aqui vai um excerto da 2ª cena do Acto III (final) da ópera.




. "Great minds against themselves conspire"
(coro)

. "Thy hand, Belinda; darkness shades me"
(Dido)

. "When I am laid in earth" (ou lamento de Dido)
(Dido)

. "With drooping wings"
(coro)

2 comentários:

Anónimo disse...

Minha querida senhora, permita-me que discorde da sua opinião. Assisti ao concerto e também fiquei um pouco decepcionado por se tratar de uma produção académica, com todo o mérito que isso representa. Mas a julgar pela forma como critica os cantores devo concluir tratar-se de uma apreciadora "purista" do estilo barroco, que mais não é do que alguém que recusa qualquer interpretação que possa diferenciar-se das que considera "de referencia". Será uma daquelas apreciadoras de música que contribui para o enquilosamento da própria música? Será a senhora intérprete? Terá pena de não ser? Só assim se percebe a ferocidade das suas palavras. Mas por outro lado, conhecerá assim tão bem este reportório? E não se apercebeu dos erros cometidos pela soprano solista? (...talvez seja sua amiga...) Seja exigente nas suas opiniões, mas não encurte os seus horizontes. Fazer crítica musical não se resume a opinar sobre o que se ouve, é preciso COMPREENDER. Porém se o que escreve é SÓ a sua opinião, e daí a liberdade para escrever os disparates que lhe passam pela cabeça, então desculpe te-la levado a sério.

Euterpe disse...

Meu caro senhor,

Desconheço a sua proximidade em relação a esta peça, ou qualquer ligação que possa eventualmente ter com a área de música antiga. Estou consciente, porém, quer do meu conhecimento profundo desta obra de Purcell, quer das habilitações que me conduziram na redacção das minhas criticas.
Devo esclarecê-lo de que, uma crítica dirigida a aspectos técnicos particulares, não é nem tem de ser forçosamente negativa. O meu trato com a música antiga não é, nem aquela que se espera de um assistente ou de um ouvinte. Se fosse um conhecedor atento na área, perceberia que a minha atitude crítica em nada é purista. Creio que a execução a que assistimos, tendo em conta a idade e o desenvolvimento musical dos alunos, foi um acto de coragem.Isso, no entanto, não coíbe de me pronunciar
acerca de erros que podem ser corrigidos.
Eu fui exigente na minha opinião e, se quiser aplicar a palavra "disparate" a alguma situação, aplique-a a si mesmo. Conheço profundamente o modo como se faz música antiga em Portugal. Quando quiser comentar alguma das minhas postagens como autênticos disparates, aconselho-o a realizar algum trabalho de casa, cuidadosamente.
Lamento a ausência da sua identidade.